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“Certamente, não é dragando o rio que a gente vai eliminar as enchentes no Vale do Taquari”, afirma pesquisador da UFRGS

“Hoje, uma cheia como a de maio de 2024 acontecendo novamente, o nível da água seria aproximadamente 10 centímetros maior”, destaca Walter Collischonn

“Certamente, não é dragando o rio que a gente vai eliminar as enchentes no Vale do Taquari”, afirma pesquisador da UFRGS
Lajeado na enchente de maio de 2024 (Foto: Nícolas Horn / Arquivo)

Pesquisadores da UFRGS, da Univates e do Serviço Geológico do Brasil (SGB) analisaram o leito do Rio Taquari pós-enchente de maio de 2024. Comparando dados colhidos pelo Dnit de antes e depois do evento, foi possível ver tanto aumento como diminuição do leito em determinados pontos. Em média, o canal ficou 17 centímetros mais alto.

Com as informações colhidas, os autores do estudo também fizeram simulações para novas enchentes, com o leito original e com a cama do rio na nova conformação. Os hidrólogos entendem que a retirada dos materiais acumulados acumulados pós-enchentes pode ter efeito pontual em determinados trechos, mas uma dragagem abrangente, além de muito custosa, não traria os efeitos desejados.

“Hoje, uma cheia como a de maio de 2024 acontecendo novamente, o nível da água seria aproximadamente 10 centímetros maior”, destaca o pesquisador do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Walter Collischonn. “Então, é uma diferença relativamente pequena, embora seja uma diferença que motive alguma preocupação em termos de eventualmente retirar alguma parte de material em algum ponto mais crítico, com impacto positivo”, diz.

“As alterações que ocorreram em 2024 por causa da cheia foram tanto de aumento quanto de diminuição da profundidade”, observa. “Houve locais com aprofundamento de vários metros, e locais com depósito de material, principalmente cascalho, onde o rio se tornou mais raso em vários metros”, confirma. “Meio que se anula, de forma que, em média, houve uma alteração de 17 centímetros, apenas. É uma diferença relativamente pequena considerando a precisão do trabalho que foi feito, dessas medições, mas sugere que houve um pouco mais de depósito do que erosão.”

Esse acúmulo se deu mais perto de curvas mais acentuadas do Taquari em Estrela e Cruzeiro do Sul, assinala. A montante, a partir de Lajeado em direção a Arroio do Meio, Roca Sales, Encantado e Muçum, os pesquisadores não tinham dados detalhados para traçar uma comparação.

Com essas informações, Collischonn entende que é possível determinar áreas prioritárias para se fazer intervenções pontuais de desassoreamento, com o máximo benefício no nível da água, menor tempo e gastando menos recursos.

Apesar disso, o pesquisador é taxativo: “Certamente, não é dragando o rio que a gente vai eliminar as enchentes no Vale do Taquari. As inundações não vão desaparecer por dragagem ou desassoreamento do rio”, destaca, pelas características da bacia e do curso das águas no Taquari.

“Os resultados da nota técnica mostram que a gente não vai evitar uma inundação com atividade dragagem. Talvez a gente consiga voltar a atividade anterior, desses 10 centímetros, fazendo a remoção de alguns materiais que estão depositados”, pondera.

“Dragando muito mais, ao custo que rapidamente se aproxima de centenas de milhões de reais, a gente ganha 20 ou 30 centímetros, mas volto a enfatizar: isso não elimina as inundações”, afirma.


Fonte: Grupo Independente